Protocolo de uso da cloroquina é ilegal por falta de evidência científica, diz pesquisador da USP

Protocolo de uso da cloroquina é ilegal por falta de evidência científica, diz pesquisador da USP

A possível ampliação no protocolo de uso da cloroquina para casos leves preocupa o médico Daniel Dourado, advogado sanitarista, professor do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Instituto Questão Ciência (IQC). De acordo com ele, o medicamento, assim como outras drogas, tem sido testado no tratamento à covid-19, mas "ainda não há evidência que funcione". 


Ele alerta que a cloroquina ganhou "projeção política". O medicamento, usado no tratamento contra a malária e doenças reumáticas, é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, que divergiu sobre o tema com os dois últimos ministros da saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. O último deixou o governo na última sexta-feira (16), antes de completar um mês no cargo, e há indefinição sobre o sucessor.


O protocolo atual de uso da cloroquina foi estabelecido ainda na gestão Mandetta e prevê a utilização do medicamento em casos graves da doença, a depender da avaliação do próprio médico. Conforme o pesquisador, ele "é ilegal porque a lei determina que um protocolo clínico deve ser baseado em evidência científica". "Agora essa ideia de amplificar, que, ao meu ver, é mais grave ainda", diz. 


"Uma coisa é o uso da droga sem comprovação científica. Até certo limite isso é aceitado - desde que haja autorização do paciente. Uma outra coisa é um protocolo oficial, que é algo definido pelo Ministério da Saúde", diz.


O pesquisador alerta que para definir, cientificamente, se vale a pena o uso do medicamento, teria que compensar o eventual risco com benefício. "As pesquisas observacionais não mostram benefício. É tudo muito inicial. É uma droga com efeitos colaterais, não é um medicamento inócuo", diz.


Um dos efeitos provocados é a arritmia cardíaca. Daniel Dourado destaca que aplicar cloroquina em casos leves, pode gerar complicações em um paciente que sequer necessitaria de medicamento. "É preocupante. É arriscado. A gente sabe que 80% dos pacientes são casos leves", finaliza.

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