Olimpíadas em Tóquio potencializam risco de circulação de variantes

Olimpíadas em Tóquio potencializam risco de circulação de variantes

As Olimpíadas de Tóquio recebem cerca de 11 mil atletas de mais de 200 países. O evento acontece no momento em que o mundo ainda vivencia a circulação de variantes do coronavírus, especialmente a delta, que se mostrou mais transmissível. Quais são as chances de o intercâmbio entre pessoas de todas as partes do planeta em arenas esportivas e vila olímpica provocar uma piora nos indicadores da Covid no Japão e no mundo?


As chances são grandes, segundo especialistas. As Olimpíadas são realizadas com protocolos de segurança, baseados especialmente em testagens sistemáticas, mas é difícil garantir que não haverá contaminação a partir de atletas que possivelmente cheguem a Tóquio com o vírus ou do contato com japoneses infectados. 


Não haverá público nas arenas esportivas de Tóquio, mas isso não quer dizer que não haja interação entre pessoas durante as Olimpíadas. Atletas, delegações, jornalistas e técnicos de mídia certamente terão interação pessoal nos momentos de alimentação, transporte e lazer. 


“O Japão vai receber um grande fluxo de estrangeiros e isso traz risco sobre a circulação de variantes. O que se pode fazer de melhor é um controle portuário rigoroso, permitindo a entrada de pessoas que fizeram teste PCR. Mas sempre vai existir o risco, embora pequeno, de quem se contaminou às vésperas da viagem e isso não aparece no resultado do teste”, explica Camila Sacchelli Ramos, professora de Doenças Infecciosas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.


Ela lembra que as delegações da Copa América, realizada recentemente no Brasil, também foram testadas antes dos embarques, mas isso não impediu que alguns jogadores testassem positivo dentro do território brasileiro. 


Para a professora, o mais seguro seria impor uma quarentena de ao menos uma semana para cada pessoa que desembarcasse no Japão, mas o isolamento tem sido imposto somente aos que testam positivo para a Covid.


“E a vacinação deveria ser obrigatória. Sabemos que se vacina quem quer, mas também vai para a Olimpíada quem quer. Com todos vacinados, o perigo seria reduzido”, diz a professora, lembrando que o índice de imunização entre os japoneses é baixo. Apenas cerca de 20% da população está com esquema vacinal completo. 


Não há protocolo completamente seguro


Professor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG, o fisiologista Eduardo Pimenta é medalhista olímpico. Ele era membro da equipe técnica da equipe de futebol que venceu o ouro nas Olimpíadas do Rio-2016. Mesmo assim, é categórico: este não é o momento ideal para a realização do evento em Tóquio. 


“Não existe protocolo totalmente seguro no mundo. Quem afirma que existe segurança no processo está falando no escuro, porque hoje a ciência tem mais perguntas do que respostas sobre o vírus. Essa alta capacidade de mutação do coronavírus é uma grande preocupação em todas as áreas da ciência”, diz o professor.


Para ele, o encontro entre pessoas de tantas etnias diferentes pode potencializar a formação de novas variantes. Para que o problema seja mitigado, para ele é fundamental que haja uma conscientização de todos os participantes dos jogos, reforçando que os cuidados não podem ser esquecidos nem mesmo entre as pessoas vacinadas.


Questionado por que 25% dos 301 atletas brasileiros não teriam completado o esquema vacinal, Pimenta diz que essa atitude é motivada pelo egoísmo. “Muitos que se vacinam têm febre e desconforto. O atleta passa quatro anos treinando para uma prova que pode durar dez segundos, se fomos pensar numa final de 100 metros rasos, e alguns acham que pode perder condição atlética com a vacina. Mas negar a vacina é não mostrar respeito ao próximo”.


Variantes circularam em torneios de futebol


As Olimpíadas acontecem pouco depois de outros dois eventos esportivos marcantes: a Eurocopa e a Copa América. No primeiro, os jogos foram realizados com público vacinado – mas sem máscara em quase sua totalidade –, enquanto o segundo só permitiu público no jogo final. 


Nos dois contextos, os torneios podem ter contribuído para a circulação do vírus. A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou que a Eurocopa contribuiu para uma alta no número de casos de Covid na Europa, não só por conta dos estádios, como também pelos pubs lotados. Já sobre a Copa América, o Instituto Adolfo Lutz confirmou que membros das delegações colombiana e equatoriana que desembarcaram no Brasil estavam com a variante B.1.621, identificada originalmente na Colômbia.

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