Covid-19: Prefeitura de Pontos dos Volantes vai distribuir medicamentos para quem testar positivo

Covid-19: Prefeitura de Pontos dos Volantes vai distribuir medicamentos para quem testar positivo

A prefeitura de Ponto dos Volantes, cidade que tem cerca de 12 mil habitantes e fica na região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, vai medicar a população que testar positivo para coronavírus. Com 40 casos confirmados da doença, o Executivo municipal, inclusive, quer oferecer, no futuro, tratamentos “preventivos” para idosos e profissionais da saúde. 


O protocolo, divulgado pela prefeitura nesta quinta-feira (2), inclui administração de seis medicamentos que serão distribuídos tanto a pessoas com comorbidades e idosos - que compõe grupo de risco - quanto a crianças e pacientes com sintomas leves da Covid-19. A medida já está em vigor. 


Segundo especialistas, nenhuma das drogas tem eficácia comprovada no combate ao coronavírus e, especialmente em casos mais leves da doença, podem gerar efeitos colaterais perigosos. Dos remédios, apenas um - a Dexametasona - é recomendado e, somente, em quadros mais graves.


O prefeito da cidade,  Leandro Ramos Santana (PSDB), afirma que tomou a decisão após se reunir com os comitês de enfrentamento à Covid-19 formados na cidade, que são compostos por membros da sociedade civil, do comércio e profissionais da saúde. 


Ponto dos Volantes, que até a semana passada registrava apenas um caso de infecção por coronavírus, viu o número de infectados saltar nos últimos dias após um programa de testagem ativa da população, afirma o tucano. Foram realizados 500 testes no município, de acordo com ele. Nessa segunda (29), todo o comércio não essencial foi fechado. 


“Terminamos a busca na quinta-feira passada e, na sexta, reunimos o comitê. Entendemos que a doença estava maior do que imaginávamos e, a partir desta semana, estamos fazendo o protocolo de profilaxia inicial”, conta.


Os medicamentos serão oferecidos, nesse primeiro momento, a quem testar positivo para o coronavírus na cidade, explica o prefeito. “Se a pessoa for diagnosticada, nossos médicos vão, de acordo com a análise de cada um, medicá-la individualmente”, pontua. 


A compra das drogas custará algo entre R$ 300 mil e R$ 400 mil ao caixa da prefeitura, segundo Santana. Valor esse que se soma aos cerca de R$ 65 mil empenhados na compra dos testes.


Questionado se há previsão para medicar a população que não estiver com a doença, como vem sendo feito em algumas cidades do Brasil, o político diz que a prefeitura está pensando em mais duas etapas para o protocolo. A segunda seria oferecer tratamento “preventivo” a profissionais de saúde e, a terceira, a idosos. 


“Por enquanto, ainda não haverá tratamento preventivo. Enviamos uma etapa (do protocolo) agora. Vamos adquirir mais testes e continuar examinando a população, por ora”, continua.


Especialistas criticam medida


Os infectologistas Unaí Tupinambás e Dirceu Greco, ambos professores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), condenaram a medida tomada pela prefeitura. 


De acordo com eles, como ainda não há comprovação científica da eficácia das drogas no combate à Covid-19, não se deve usá-las em tratamentos generalizados. 


“Temos visto isso, inclusive vindo de entidades médicas, estipulando tratamentos para o coronavírus. Nenhum desse medicamento tem eficácia comprovada, e cada vez menos eles têm efeito efeito positivo observado”, ressalta Tupinambás. 


Inclusive, enfatiza o especialista, alguns dos medicamentos, como a cloroquina e a hidroxicloroquina, estão sendo retirados de protocolos internacionais. “É uma temeridade o uso indiscriminado”, conclui. 


Greco afirma que não há base científica e, inclusive, risco de efeitos colaterais na administração das drogas. 


“Se tivesse um tratamento certo, estava facílimo, né? O momento é de prudência. Não há nada estabelecido. Há ao menos dez medicamentos em teste no mundo, seguindo o protocolo correto, e pode ser que daqui a alguns meses poderemos ter algo certo. Por enquanto, não há”, explica o médico.


Em nota divulgada no último dia 29, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), também condenou esse tipo de política.


“Não existem evidências científicas de que quaisquer das medicações disponíveis no Brasil, tais como ivermectina, cloroquina ou hidroxicloroquina, isoladas ou associadamente, sejam capazes de evitar a instalação da doença em indivíduos não infectados”, diz o texto.

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