Colômbia pode eleger seu primeiro presidente de esquerda hoje

Colômbia pode eleger seu primeiro presidente de esquerda hoje

BOGOTÁ, COLÔMBIA. Neste domingo (29.5), 38 milhões de colombianos aptos a ir às urnas vão decidir quem será o próximo presidente do país. A esquerda, que nunca governou a Colômbia, tem uma vantagem ampla, com o ex-guerrilheiro, ex-prefeito e senador Gustavo Petro com 40,6% das intenções de voto, de acordo com pesquisa do instituto Invamer.


O segundo colocado é o direitista moderado Federico Gutiérrez, que tem 27,1%, mas vem perdendo força desde que aceitou o apoio do atual governo, do impopular Iván Duque, e de alas mais duras da direita.


Corre por fora, com crescimento acentuado nos últimos levantamentos, o populista Rodolfo Hernández, com 20,9%, que tem plataforma de direita anticorrupção e prega um Estado mais presente na economia. A alta do candidato alterou a previsibilidade sugerida pelas pesquisas nos últimos meses. A chance de um segundo turno, a ser realizado em 19 de junho, permanece, mas não se sabe quem Petro enfrentaria.


Protestos contra reforma tributária fortaleceram a esquerda colombiana


A força do esquerdista, que em 2018 perdeu no segundo turno para Duque, surge embalada pelas manifestações antigoverno realizadas entre 2019 e 2021. Os protestos começaram devido a uma proposta de reforma tributária, mas logo ganharam pautas mais amplas, como a desigualdade histórica no país, o desemprego, que atinge 12% da população, e a perda de trabalhos informais durante a pandemia de Covid.


A repressão brutal aos atos por parte da polícia colombiana, vinculada ao Exército, deu força à oposição, que também vê na escolha da candidata a vice de Petro, a advogada e ambientalista negra Francia Márquez, defensora de políticas de gênero e diversidade, um ativo para atrair jovens aos atos da chapa.


O voto não é obrigatório na Colômbia, mas espera-se uma taxa de comparecimento maior neste ano, puxada pelos jovens. "Desde os protestos de 2021, vemos que eles estão mais envolvidos na política e com vontade muito grande de mudança. Por isso, espera-se que esse setor da população, antes não tão comprometido, vá às urnas", diz Silvia Otero Bahamón, professora da Universidade do Rosario, de Bogotá.


Para a pesquisadora, os temas principais dessa eleição são diferentes da do pleito anterior, em 2018, que ocorreu apenas dois anos depois do acordo com as Forçar Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). "Naquela época, a paz com as guerrilhas era o assunto mais importante. Agora, não, as pessoas estão preocupadas com impostos, empregos e um modelo de Estado que as proteja mais", afirma Bahamón.


"Esses temas se agravaram com a pandemia. Enquanto isso, o estigma que a esquerda tinha, de estar associada à luta armada, diluiu-se bastante, embora ainda exista um reduto de rejeição a Petro, devido à sua associação ao chavismo."


Pandemia e migrantes venezuelanos são temas eleitorais chave


Os impactos da pandemia podem ser sentidos na capital. No centro, comércios estão fechados, há muitos moradores em situação de rua e restaurantes de áreas nobres mudaram de dono ou colocaram seus imóveis para alugar. A melhora nas cifras da Covid nos últimos meses, porém, deu novo ar a Bogotá.


A pandemia deixou, até o momento, quase 140 mil vítimas no país, de acordo com dados compilados pela Universidade Johns Hopkins. Ao menos 84% dos colombianos tomaram uma dose da vacina contra a Covid, 71%, duas, e 24%, a dose de reforço, segundo ferramenta de monitoramento do New York Times.


Mesmo com desaprovação superior a 70%, o presidente Iván Duque foi avaliado de modo positivo em dois pontos. Um deles foi o combate ao coronavírus. O outro, a recepção a refugiados venezuelanos.
Hoje eles são, oficialmente, 1,8 milhão, mas ONGs de direitos humanos estimam que esse número já chegou a 2,5 milhões. O Estatuto de Proteção Temporária para Migrantes Venezuelanos, que deu acesso a documentação e permissão de trabalho a quem recém-deixava a ditadura chavista do país vizinho, recebeu elogios de instituições como a Human Rights Watch. (FOLHAPRESS) 

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